Ok, mais de 3 anos sem postagem. O que temos pra hoje? Hummm, vamos ver. Olhando minha página de eventos no Facebook, vejo que pra hoje (terça-feira) não tem nada, óbvio, mas pros próximos dias vejo uma lista maravilhosa de grandes bandas que vão tocar no DF. Caras do naipe de Black Sabbath, System Of A Down, Legião Urbana e Raul Seixas (whatta fuck???), Engenheiros do Hawai, Led Zeppelin, Deep Purple, e muito mais! Será um carnaval como nunca antes visto? Nem tanto. Brasília virou a meca do rock mundial, com tantos nomes fodásticos além de reencarnações de mitos falecidos há anos? Menos.
Brasília sofre de uma síndrome que vem se desenvolvendo mais ou menos em silêncio em suas entranhas desde o fim dos anos 90, um mal que se espalha com mais voracidade no mundo moderno cheio de mídias digitais, globalização, avanço econômico, e uma infinidade de outros aspectos que fazem com que a música seja massificada cada vez mais. Cada vez está mais fácil ouvir música e, por consequência, somos bombardeados a todo tempo tanto com aquilo que gostamos de ouvir quanto com o que não gostamos. O resultado é que o interesse pelo que é novo passa a diminuir gradativamente, uma vez que não temos muito tempo ou espaço pra digerir direito o que ouvimos. Dessa forma, fica muito mais fácil voltar a ouvir aquilo que já é consagrado, aquilo que já sabemos que "é bom", do que arriscar o nosso precioso tempo ouvindo algo que ainda não conhecemos direito, algo novo, não estabelecido.
Uma análise simples serve como argumento para essa teoria. Os computadores se popularizaram no Brasil nos anos 90; a internet também surgiu por aqui nessa época; o Brasil começou a se desenvolver economicamente com mais força a partir dessa década; e por aí vai. Com a popularização da internet e a famosa "inclusão digital" nos anos 2000, o processo tomou corpo de vez. Assim, agora temos acesso à milhões de discos que antes eram difíceis de se achar, e qualquer um pode conhecer a fundo o trabalho daquela banda famosa da qual gosta. Consequentemente, fica fácil expandir o conceito de que um Pink Floyd é maravilhoso, ou que os Beatles foram pioneiros de tudo o que se ouve hoje, ou que os Stones são isso, o Doors é aquilo, e assim por diante.
Some a tudo isso o fato de que o campo harmônico já foi esgotado há séculos. Aplicando isso ao rock, especificamente, os riffs e progressões de acordes já estão repetidos há décadas. "Ah, então você está dizendo que não dá mais pra fazer nada novo?" Claro que dá. Música é repetição mesmo, de um jeito ou de outro. Vejam a progressão Blues de 12 compassos, por exemplo. Se você analisar harmonicamente, verá que 90% do que foi e ainda é produzido no gênero é basicamente composto por tônica, subdominante, e resolve na dominante. Isto é ruim? Não! Pois existem muitos outros aspectos que podem ser utilizados pra "personalizar" uma música Blues, como a melodia, o fraseado, a cadência rítmica, e principalmente o "feeling".
O que quero dizer é o seguinte: As pessoas não querem mais se dar o trabalho de analisar nada. Não querem perder tempo ouvindo algo que ainda não lhe foi dito que é bom. O resultado disso é que, desde os anos 90, não surge nada de grande no rock nacional. Mesmo no internacional, podemos contar nos dedos os artistas que surgiram nesse período e que tiveram grande repercussão.
Que eu me lembre, a última grande banda que surgiu no Brasil foram os Raimundos, que lançaram seu primeiro disco em 1994 e a partir daí tiveram um enorme sucesso fazendo o que parece óbvio e batido hoje: misturando o bom e velho rock com um rítimo genuinamente brasileiro: o forró/baião.
Aí você vai me dizer que surgiram os Los Hermanos, o Detonautas, a Pity, o Restart, o NX Zero, Cachorro Grande, e por aí vai. Eu digo que alguns desses nem merecem ser citados por motivos óbvios, e que outros como Los Hermanos e Pitty, por mais que tenham alcançado certa projeção, não considero como sendo "grandes bandas ou artistas", do naipe de uma Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Cássia Eller, etc.
Hoje, em Brasília (e quiçá no Brasil), só há espaço para bandas cover. Se você quer tocar no América Rock Club (Taguatinga), Velvet Pub, U.K. Brasil, Strangers, e tantos outros bares e casas de show do DF, você tem que montar uma banda cover (ou tributo). O cara chega pra você sem embaraço algum e diz: "Pra eu abrir meu bar você tem que me garantir 500 reais". Qual o artista vai poder fazer isso? De certa forma eu até entendo o lado dos empresários e donos dessas casas, afinal, eles "têm que sobreviver". E pra encher a casa e gerar lucro de consumação, apenas as bandas cover/tributo têm capacidade para tal, com exceção de um ou outro artista autoral da cidade. Você vai a um show cover do Pink Floyd e tem 300 pagantes. No show da banda autoral dos seus amigos tem 40 pagantes. E por que isso? Porque as pessoas não se interessam mais pelo novo. Só querem ver aquilo que já está estabelecido. Conclusão: a culpa é nossa mesmo. De quem consome tudo isso. Aí como é que você vai rebater o argumento do dono do bar, se no show da tua banda autoral tem 40 pessoas tomando uma meia dúzia de cervejas, e no da banda cover tem 400?
Afinal, será que agora não nascem mais pessoas com os genes certos pra produzirem grandes obras como antes nasciam? Caras como Renato Russo, Cássia Eller, Cazuza, Raul, e uma porrada de outros, foram privilégio de gerações passadas, e a partir de agora está proibido nascer gente assim? Acho que não é por aí...
Nadando contra essa correnteza, há ainda muita gente fazendo coisas maravilhosas em toda parte. O que falta é uma abertura geral, uma boa vontade, vamos assim dizer. Hoje o que impera é a preguiça, a ganância e a futilização generalizada. São reflexos do mundo moderno, minha gente. E o futuro me parece ainda mais obscuro do que já está. O que será de nossos filhos e netos??? Oh fuck...
Pra finalizar, vou deixar aqui com vocês alguns exemplos de que ainda há uma resistência a essa dura realidade.
1- Banda Terno Elétrico, do brother Célião de Moraes, música "Olhos de Hipinose".
2- Banda Epítase, grandes parceiros, com a canção "The Bank Guy Bossa".
3- O mestre guitarrista Taguatinguense Dillo D´Araújo com o som "Almost Morning", do seu 1º disco.
Forte abraço
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